30 de outubro de 2010

Características de um bom programador – Parte 2/3 – Paixão

Em 2005, os formandos da Stanford University - uma das melhores universidades do mundo - foram brindados com um discurso memorável de nada menos que Steve Jobs. Seu discurso inteiro merece ser assistido[1], mas quero citar apenas uma pequena frase dele:

"A única maneira de fazer um trabalho brilhante é amar o que você faz" [1]

Jobs contou que os eventos que culminaram na sua demissão da Apple não afetaram seu sentimento para com o seu trabalho. Ele continuou apaixonado pelo que fazia. Essa paixão o motivou a seguir em frente. Ele então criou a NeXT, que produziu a tecnologia que viria a se tomar o coração do Mac OS, e iniciou a Pixar, que produziu o primeiro longa-metragem totalmente feito por computação gráfica - o filme Toy Story. Em uma incrível virada de eventos, Jobs reassumiu a liderança da Apple.

É uma história impressionante, e meu objetivo ao utilizá-la é embasar a afirmação de que talento não é nada sem paixão.

Apaixonados vão mais longe

Pessoas talentosas, mas sem paixão, não vão muito longe. Nenhuma motivação externa (salário, estabilidade, status etc) é capaz de produzir efeitos equivalentes a maior de todas as motivações internas - a paixão. Isso é verdade tanto para um pedreiro como para um programador.

Programadores talentosos e apaixonados não precisam de estímulo para fazer um trabalho de qualidade; eles o fazem porque sentem prazer nisso. Também não precisam de estímulo para serem criativos; eles simplesmente o são. Problemas desafiadores fazem seus olhos brilharem. Por outro lado, os que tem talento, mas não paixão, fazem apenas o suficiente.

Ninguém veste a camisa do outro

Alguns gostam de contratar aqueles que se comprometem a "vestir a camisa da empresa". Mas a realidade é que nós vestimos apenas a nossa própria camisa. Em outras palavras, trabalhamos pelas nossas próprias realizações.

Quando se trata de programadores, não adianta procurar aqueles que serão comprometidos com a empresa. Esse tipo de comprometimento significa apenas que serão funcionários obedientes e honestos, o que não tem nada a ver com fazer bom software. Um bom software é feito por pessoas talentosas e comprometidas com o seu próprio trabalho. Esse comprometimento é o que os leva a procurar pelas melhores soluções para os problemas que a sua empresa enfrenta. E de onde vem esse comprometimento? Não é da paixão pelo empregador, mas da paixão pelo seu ofício. Portanto, esqueça aqueles que dizem que vão "vestir a camisa da empresa" e procure pelos que, de verdade, são apaixonados pelo próprio trabalho.

Nem tudo são flores

O corolário dos programadores talentosos e apaixonados é a sua tendência de produzir soluções mais sofisticadas do que o prazo e o orçamento permitem. Isso, de fato, é um problema para os gestores. Mas é um problema menor e mais fácil de ser contornado do que a improdutividade e baixa qualidade do trabalho de programadores sem talento e paixão.

Outra peculiaridade é que eles facilmente chegam ao estágio House se não tiverem uma boa dose de trabalhos que façam bom uso do seu talento e alimentem a sua paixão. Isso é comum acontecer em empresas que pararam no tempo e não evoluíram tecnologicamente. Se esse é o caso da sua empresa, é melhor conseguir alguns trabalhos interessantes antes que sobrem apenas cowboys na sua equipe.

Pra fechar...

Se você quer fazer bom software, tenha uma equipe talentosa e apaixonada. Sem essas características, não há metodologia, salário, nem gerência que faça uma equipe produzir bom software.

Esse era o recado sobre Paixão. Volte no próximo sábado e leia o último artigo desta série falando sobre a terceira característica que considero mais importante. Se preferir, assine meu RSS, siga-me no Twitter ou torne-se seguidor deste blog para ser informado quando for publicado o próximo artigo.

Você concorda que a paixão é uma das características mais importantes num bom programador? Deixe seu comentário.

Foto: Equilibristas talentosas e apaixonadas do Cirque du Soleil.

Referências:

8 comentários:

Vinicius A. Santos disse...

Acho que não tenho comentários...

Novamente concordo com suas palavras e claro as do Jobs tbm.

No tópico "Nem tudo são flores" eu colocaria como peculiaridades de um apaixonado por software o extremo stress que programadores frequentemente são submetidos, fazer horas extras quase que diariamente, consertar problemas de outros, etc e mesmo assim continuar amando software.

Alguns meses atrás eu estava literalmente ficando louco, trabalhando de segunda a domingo por um período razoável de tempo até o lançamento da versão. Apesar de termos muuuuitos problemas e muitas tarefas a fazer, eu chegava a noite em casa, olhava para o espelho e dizia para mim mesmo: EU AMO SOFTWARE!!!

Quando vc tem paixão, absolutamente NADA tira esta paixão de dentro de você.

Algumas pessoas podem até duvidar ou achar que você está ficando louco, mas não há dificuldades que você não supere e não há sonhos que você não realize, com paixão dentro do coração!

Acho que isto vale para a vida!

E uma dúvida: Você acredita em talento verdadeiro sem paixão?

Eu vejo os dois intimamente ligados, quase inseparáveis.

Dirlei Dionísio disse...

Olá Vinicius! Bom te ver por aqui novamente!

No tópico "Nem tudo são flores" eu pensei mais nas peculiaridades negativas, do ponto de vista de quem contrata. Do ponto de vista dos profissionais, realmente nós enfrentaremos, pelo menos de vez em quando, um nível elevadíssimo de estresse. Só não podemos nos acostumar com isso e achar que é normal viver assim o tempo todo. Não é. É difícil fazer um bom trabalho por muito tempo quando não se tem tempo nem pra descansar direito.

Sua pergunta foi muito interessante. Sim, eu acredito que é possível ter talento, mas não paixão, apesar de serem coisas intimamente ligadas. Deixe-me explicar.

Enquanto vejo o talento como algo mais intrinsecamente ligado a formação da pessoa, sendo praticamente impossível removê-lo de alguém, vejo a paixão como algo que pode ser desenvolvido ou perdido.

Isso é o que explica para mim porque algumas pessoas com grande talento para algo não vão em frente e fazem bom uso do seu talento. Para mim é a falta de paixão. Especificamente no desenvolvimento de software, seria aquele programador que tem potencial para fazer um bom trabalho, mas simplesmente não dá a mínima para a qualidade do que produz.

Obrigado pela sua visita e pelo comentário. É muito bom ler o feedback de pessoas talentosas e apaixonadas como você! : )

Um abraço!

Priscila Dionisio disse...

Excelente texto! Emana paixão! Não sou da área de desenvolvimento de software, mas sei bem o que é ser apaixonada pelo próprio trabalho. Muitos torcem o nariz quando digo que sou professora. Mas não são os alunos que me dão alegria (ou tristeza), nem a "empresa" à qual pertenço, mas o simples fato de estar ensinando. O ensinar é a minha paixão. E é essa paixão que me leva a fazer um bom trabalho.

Dirlei Dionísio disse...

Priscila, são pessoas como você que procuro quando conduzo processos seletivos. Pessoas proativas, que não esperam pelas circunstâncias ideais para fazer um bom trabalho. Com pessoas assim, o trabalho simplesmente flui.

Muito obrigado pelo seu comentário!

Magno Machado disse...

Profissionais que amam o seu trabalho tendem a ser melhores por que trabalham por prazer, e sua paixão os fazem estar sempre praticando suas abilidades e adiquirindo novos conhecimentos.

Mas para um gestor, existe aí um grande desafio: É necessario alimentar essa paixão, do contrario existem duas alternativas:
1. O profissional vai embora
2. O profissional vai trabalhar desmotivado, e aí não vai produzir bons frutos.

No mais, excelente post, como sempre

Dirlei Dionísio disse...

Magno, o que você disse me lembrou uma frase citada no filme Homem-Aranha: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades".

Um gestor que possui uma equipe talentosa e apaixonada tem o "poder" de realizar grandes trabalhos, mas sua responsabilidade também é maior, pois se sua equipe não tiver um bom ambiente para trabalhar, cedo ou tarde seus profissionais procurarão um outro lugar para trabalhar.

Obrigado pelo comentário! [ ]'s

Leandro Laia disse...

Nesses dias vi esse slide que foi baseado no livro de Roberto Freire de mesmo nome: http://www.slideshare.net/seatecnologia/sem-tesao-nao-ha-solucao

A paixão tem que está sempre presente. é importante para a satisfação profissional com certeza.

Tá muito legal esses tópicos Dirlei!

Dirlei Dionísio disse...

Excelente apresentação, Leandro! Obrigado por compartilhar.

(Recomendo aos que estão lendo este comentário que vejam o link compartilhado pelo Leandro, acima).

A frase que mais me chamou a atenção foi "Prestigiem quem trabalha por paixão". Esse é o apelo que endosso aos que tem a oportunidade de selecionar profissionais para fazer software. Contratem que tem paixão e alimentem essa paixão.

Valeu, Leandro!